Dall'amico p. Lopes, riceviamo l’invito alla lettura, non troppo lunga e comunque raccomandata, dell’articolo di Maurício Thuswohl (di Carta Maior). Si parla della situazione del Paraguay, del rispetto che questa merita per il più ampio contesto della nazione stessa.
Buona lettura!
DEBATE ABERTO
Os paraguaios (e seus filhos) merecem respeito.
Assim como no momento da “crise” com os bolivianos, o governo Lula também será exortado a tratar o Paraguai com dureza. As pressões surgirão no Congresso e na grande mídia e, coincidentemente, virão dos mesmos setores que condenam a conduta moral de Lugo.
Data: 06/05/2009
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, chega quinta-feira (7) ao Brasil para uma visita oficial de dois dias que tem como principal objetivo avançar nas negociações sobre a reformulação do Tratado de Itaipu. A visita coincide com o anúncio, feito por Lugo, de que irá se submeter em seu país ao exame de DNA solicitado por uma mulher que afirma ter concebido um filho com o atual presidente paraguaio há seis anos, quando este ainda era bispo da Igreja Católica. A coincidência dos fatos nos convida a uma reflexão sobre o tratamento dado ao Paraguai e a seu presidente pelo governo brasileiro e pela mídia conservadora no Brasil.
Não cabem nessa reflexão julgamentos morais sobre a conduta do homem Fernando Lugo. Tampouco cabem considerações religiosas ou dogmáticas sobre seu papel como bispo e o exemplo dado aos católicos ou à sociedade. Falemos aqui do aspecto político da “crise” paraguaia, e nada mais. Falemos de um país que é vítima de injustiças históricas no continente, que é motivo de chacota entre as elites dos países vizinhos e que serve como base para uma série de negócios ilegais sustentados por essas mesmas elites, como as falsificações, a pirataria, o contrabando e o tráfico de drogas.
Falemos, pois, do Paraguai, país que pela primeira vez em sua história elegeu um presidente comprometido com um programa democrático e popular e que acaba de romper com quatro décadas de domínio absoluto do corrupto e violento Partido Colorado. Um dos últimos a ser eleito na onda esquerdista que varreu a política da América do Sul, Fernando Lugo, que ocupa a Presidência há um ano, tenta conduzir o Paraguai pelo mesmo caminho pedregoso da mudança no qual enveredaram Brasil, Bolívia, Equador e tantos outros.
Como era de se esperar, mesmo ainda tímidas, as mudanças propostas até aqui por Lugo provocaram imediata reação conservadora no país. Segundo relatos vindos do Paraguai, algumas medidas tomadas pelo novo governo para combater o contrabando e a sonegação de impostos, por exemplo, atingiram em cheio os interesses de setores do legislativo e do judiciário, além de, por incrível que pareça, sofrerem oposição de setores da mídia.
Nesse contexto, surgiu nos jornais paraguaios a história do reconhecimento da paternidade do menino Guillermo, de dois anos, que Lugo teve com Viviana Carrillo. Logo em seguida, Benigna Leguizámon deu entrada em um pedido de reconhecimento de paternidade para o menino Lucas, de seis anos. Completando o ciclo, Damiana Morán, ex-coordenadora de uma pastoral, afirma que o menino Juan Pablo, de um ano e oito meses, também é filho do atual presidente. Ao contrário de Benigna, no entanto, Damiana não pretende solicitar o reconhecimento de paternidade na Justiça.
A história, convenhamos, é muito peculiar e até mesmo digna de um folhetim. O problema, no entanto, é o sórdido uso político que, justificado por uma premissa moral para lá de hipócrita, vem sendo feito dela pelos setores conservadores da sociedade no Paraguai e também no resto da América do Sul. A condenação da conduta moral de Lugo transformou-se rapidamente em arma para aqueles que abominam a idéia de integração sul-americana.
Corruptos e pusilânimes, muitos dos ex-presidentes paraguaios foram tratados com deferência por sucessivos governos “amigos” em Buenos Aires, Brasília ou Santiago. No caso brasileiro, o assassino Alfredo Stroessner mereceu até mesmo a concessão de um generoso asilo político. Mas, numa mudança brusca de humor, todos acham agora que “esse bispo safado” não tem condições de governar o Paraguai.
Zeloso guardião dos bons costumes da família sul-americana, o jornal brasileiro O Globo questionou em editorial: “Sendo capaz de atitudes assim na esfera privada, o que se pode esperar do ex-bispo no mas alto cargo do país?”. No mesmo dia (25 de abril), o jornal trouxe matéria na qual relata que “um senador do Partido Liberal pediu a renúncia de Lugo”. O texto afirma que “ainda se trata de uma atitude isolada, mas os rumores sobre um pedido de impeachment e até mesmo de golpe de Estado circulam há dias em Assunção”.
A articulação imaginada pelo conservadorismo paraguaio para derrubar o presidente democraticamente eleito passa pelo rompimento da aliança que sustenta Lugo no poder, já que o vice-presidente Federico Franco é do Partido Liberal. Qualquer gestão nesse sentido, no entanto, não tem a mínima chance de prosperar sem a simpatia, por exemplo, dos governos do Brasil e da Argentina. Para sorte da democracia paraguaia, vivemos outro momento no continente e tanto Luiz Inácio Lula da Silva quanto Cristina Kirchner já deixaram claro que não vão cooperar com qualquer idéia golpista no parceiro de Mercosul.
O apoio de Lula, no entanto, se tornará mais efetivo se o Brasil acenar com medidas concretas que possam atender aos anseios do Paraguai e, de quebra, dar uma força para o primeiro governo progressista no país vizinho. E, para tanto, o primeiro passo seria o governo brasileiro ceder um pouco no que se refere ao Tratado de Itaipu. O desejo de Lugo é que o Brasil passe a pagar mais pela compra da energia gerada em Itaipu que o Paraguai não utiliza. Essa venda serve para abater a dívida paraguaia pela construção da usina hidrelétrica, que teve o custo de US$ 27 bilhões quase todo arcado pelo Brasil.
Os valores praticados atualmente na compra da energia paraguaia excedente estão bem abaixo do mercado e o Brasil tem espaço para recuar sem ferir seus próprios interesses ou a sua soberania. É hora de o governo Lula estender a mão ao Paraguai. A situação em relação a Itaipu é semelhante aquela do fornecimento de gás pela Bolívia. Assim como no momento da “crise” com os bolivianos, o governo Lula também será exortado a tratar o Paraguai com dureza. As pressões surgirão no Congresso e na grande mídia e, coincidentemente, virão dos mesmos setores que condenam a conduta moral de Lugo. Virão dos mesmos setores que acham que devemos manter vizinhos como Paraguai e Bolívia de joelhos ao mesmo tempo em que nos ajoelhamos diante dos Estados Unidos ou da Europa.
Maurício Thuswohl